Nunca mais seremos os mesmos, mas este processo não é só de perdas.
Há tempos convivo intensamente com o povo judeu; grandes amigos e incríveis pacientes e observo que eles têm muito a nos ensinar.
Entre outros tantos povos sofridos, os judeus viveram os horrores do holocausto e foi desta experiência que se tornaram um povo pra lá de admirável:
Os judeus não esquecem o passado para tornar o presente e o futuro mais digno e para honrar seus antepassados;
Os judeus atribuem sentido a todos os ciclos do viver, cheios de rituais, valorizam a vida e o senso pertencimento.
Os judeus se reconstruíram economicamente ajudando uns aos outros.
Os judeus vivem em comunidade e jamais deixam seus “irmãos” para trás.
A comida, que tanto lhes faltou, une as pessoas e tece uma narrativa. Cada prato tradicional tem uma história de perda, luto e resiliência. Certamente a comida deve ter mais sabor.
A resiliência deste povo só existe porque seus antepassados enfrentaram dor, humilhação e lutos incomensuráveis. Foi a partir da dor da luta pela vida que o valor dado a ela se tornou a força motriz de uma imensa comunidade espalhada pelo mundo, mas unida pelos valores, fé e princípios.
Depois desta pandemia, nunca mais seremos os mesmos e isto não será necessariamente só perda, desde que a solidariedade e os valores não sucumbam ao medo e à interesses escusos.