De tantas mortes, a do seu amor

Espero que este texto não seja para você.

Mas se for, lamento imensamente.
Lamento por sua perda.

Lamento por seu sofrimento solitário ou afastado das outras pessoas que tanto ama. 

Lamento que a vida e a morte de seu amor sejam tratados por alguns, incluindo um governo inominável, como um número de uma estatística enorme e banalizada.

Lamento que sua despedida não tenha acontecido como você merecia e precisava.

Lamento que os noticiários e as conversas esgotem o assunto, mas não falem da sua dor, da sua perda, daquilo que te consome diariamente. 

Lamento que neste contexto você precise se esforçar ainda mais para dar conta de tanta coisa, incluindo, além da tristeza, o medo. 

Mas quero te perguntar se, apesar de tudo isso, valeu a pena. Valeu? Tenho certeza que sim.

Seu sofrimento existe porque você tem uma história de amor para lembrar e eternizar no seu mundo interno, cujas regras e leis são escritas por você.

Dói porque houve investimento, entrega, alegrias, tristezas, conquistas, conflitos, dúvidas, certezas, surpresas, enfim, uma vida compartilhada com alguém importante para você e para quem você foi muito importante. 

O luto é duro, é uma montanha russa da qual você saíra transformado por ele e tudo isso, por conta do amor.

E é o amor que alimenta a vida. 

É o amor que nos alimenta. 

E é ele, mesmo que numa nova configuração, que vai te ajudar a seguir a vida, com a certeza que ele é seu, sempre será. 

A morte não mata o amor, mas o exila dentro de você. 

Cuide dele, mas acima de tudo, cuide de você e siga amando (você, a vida e as pessoas), mesmo que tenha medo de sofrer novamente. 

Essa é a melhor garantia de que este amor seguirá vivo. 


(Texto escrito em 2021 durante o início da pandemia do coronavírus)