Luto parental


A complexidade desse laço afetivo promove, em igual proporção, a complexidade da ruptura desse vínculo.

Perder um filho representa um sofrimento de proporções inimagináveis, pois implica numa sobreposição de perdas, entre elas:

A perda do passado; de tudo aquilo que aspiramos relacionadas às nossas infâncias enquanto pais e que projetamos nos filhos, consciente e inconscientemente;

A perda do presente e de um vínculo que quando formado passa a representar parte fundamental da identidade de um adulto;

A perda do futuro e da extensão física e psicológica que os filhos representam, garantindo nossa imortalidade.

A perda do exercício do cuidar e de toda potência nele investida.

A perda de partes de si mesmo, física, psicológica e existencial.

A perda da família intacta.

A perda da possibilidade de se autorizar a seguir em frente tendo a consciência de um futuro que foi roubado de alguém mais jovem e com tanto a viver.

A perda de todas as datas que foram sonhadas a serem vividas por um filho e com ele.

A perda de um amor sem igual.

Por tantos abismos, uma dor sem igual.