Está difícil demais,
Está dolorido demais,
Está demorado demais,
Está longe demais,
Está escuro demais,
Está solitário demais,
Está turbulento demais,
Está confuso demais.
Está demais.
E quando diminui?
Pergunta o enlutado.
Não diminui.
É a gente que estica.
Estica o coração,
Estica o cérebro,
Estica o amor,
Estica a necessidade de sobreviver,
Estica a possibilidade de conviver com a dor,
Estica a gente,
E de tanto esticar,
Cabem mais coisas,
Mais pessoas,
Mais vivências,
Dentro da gente,
Dentro da vida,
Dentro da dor.
E desta mistura, nasce um tanto de coisas.
Mesmo que demore.
Sempre vai demorar.
O tempo do relógio não é o mesmo do luto.
Até que vai nascendo
De um trabalho de parto demorado
Um novo eu,
Um novo caminho,
Um novo jeito,
Um velho-novo.
E com isso,
Já não está tão difícil,
Já se torna possível,
Um querer,
Um sorriso genuíno,
Um amar,
Um esperançar,
Mais ainda cabe a dor,
Sempre caberá.
Mas ela já não é todo.
Vira parte.