Gabriela Casellato

Morte em Vida

Quando a morte é em vida,o desafio se torna ainda maior. Além da tristeza, o enlutado se debate,nega, barganha, tenta resgataro vínculo perdido — palpável, mas inalcançável;presente, mas ausente. Nesta despedida enovelada,nasce o amargo gosto da rejeição,e a montanha-russa dos afetosatinge patamares insondáveis. A falta de concretude cutuca,às vezes, desperta a loucura. Diante dos incessantes […]

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O Luto

Seca a gargantaCome as palavrasVira o estômago. Ceifa a a poesiaLentifica o corpoSalga as lágrimas,Bagunça a alma. O luto Quando precisa ser vividoSe torna a feijoada do cérebro;Nada mais pode ser digeridoAté que ele o seja. O luto Nos joga para o passadoNuma ruminação incessanteDe memórias e elementos deUma ausência insuportável. O luto coloca o

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Tempo

Para uns, amigo; para outros, um vilão temido.Aquele que dá ritmo à vidaE nos apresenta, inexoravelmente, a finitude de tudo que vivemos.Com isso, nos aponta o espelho,O mais nítido de todos,Com seus côncavos e convexos,Que revela, sem retoques, quem realmente somos. Às vezes, não parece ser justo e ponderado diante do amor e da dor.Amores

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Paciência

O processo de luto é um longo processo que exige muito paciência.“Paciências” na verdade. Paciência com o mundo interno: Com tanto barulho silencioso que ecoa dentro do enlutado.Paciência com a duração da dor.Com o vai e vem de emoções.Com os pensamentos intrusivos.Com uma mente que não responde às tantas demandas urgentes.Com um corpo entorpecido.Com a

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O relógio do enlutado

Não é regido pelo “Cronos”,mas sim pelo compasso de cada amor. Não tem ponteirose seu ponto de partida,não tem vislumbre de chegada. Seus intervalos são completamente irregulares,confundidos pela arritmia severada dor dilacerante da despedida. São medidos pelas agulhadas da dor de encarar a falta do que foi perdidoe os desafios a serem enfrentados. Seu movimentoé invisível, desvalorizadoe

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Colcha de retalhos

A dor do luto rasga a gente em pedaços, tão pequenos que são incontáveis,tão profundos que são invisíveis, tão complexos que são inomináveis.  Temporariamente,nos tornamos um amontoado de retalhos da vida, de uma história, de nós mesmos.  Retalhos desordenados e amontoados que não fazem sentido.Até que nossos instintos começam a costurá-los. Surge então uma colcha.Uma linda colcha de retalhos.Com ela,quem sabe?Podemos nos aquecer

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Demais

Está difícil demais,Está dolorido demais,Está demorado demais,Está longe demais,Está escuro demais,Está solitário demais, Está turbulento demais,Está confuso demais.Está demais. E quando diminui?Pergunta o enlutado. Não diminui.É a gente que estica.Estica o coração,Estica o cérebro,Estica o amor,Estica a necessidade de sobreviver,Estica a possibilidade de conviver com a dor,Estica a gente,E de tanto esticar, Cabem mais coisas,Mais pessoas,Mais

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Luto: Retiro da Vida

Quando vivemos a perda de um amor,nos retiramos da vida.Não é uma escolha,mas uma necessidade,Nos é imposta quando o chão nos é arrancado. O luto exige isso.Para seguirmos, precisamos nos retirar.Antes de um ajustamento à vida que segue,desajustamos quase tudo.O relógio,o compasso do coração,o circuito dos pensamentos,o sentido da vida,a fé,a possibilidade de amar e

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Lugar de mãe

Lugar de mãe é dentro da gente.Ontem, hoje e será sempre. Lugar de mãe é onde cabe a dúvida e o medo.Que são afagados pelo conforto da memória de seu cheiro, sua voz, seu olhar e seu toque. Lugar de mãe não se ocupa.Não existe ex-mãe e nem ex-filho. Lugar de mãe se reverencia.E a

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