Será que estamos sabendo acolher uma pessoa em luto?

Já é tradição: setembro é o mês da campanha de conscientização e prevenção ao suicídio. Denominado “Setembro Amarelo“, o movimento foi idealizado em 2014 e, desde então, promovido por inúmeras instituições da área da saúde mental em todo o país.

A maioria das intervenções de psicoeducação desenvolvidas a cada ano se foca em sensibilizar a população para aspectos de prevenção e suporte às pessoas com risco de suicídio.

É inquestionável que os esforços despendidos nessa direção são essenciais, urgentes e necessários, mas cabe também um olhar compassivo a quem já teve a dura experiência de ver algum amor partir por esta razão.

Entre outros tantos contextos de luto, a perda por suicídio é uma das inúmeras situações nas quais o luto é banalizado, negligenciado ou estigmatizado pela sociedade.

Costumamos chamar isso de fracasso empático: um processo por meio do qual o sofrimento e a vulnerabilidade do enlutado não são validados ou respeitados – o que adiciona uma camada de dor ainda maior.

Essa dinâmica deve ser entendida como uma violência secundária sobreposta à ruptura do vínculo, impelindo o enlutado ao isolamento e à solidão.

Mas então, por que fracassamos no exercício de nos aproximarmos da dor de alguém? Vale compreender que empatia implica num esforço de aproximação cognitiva e emocional em relação ao sofrimento de outra pessoa, incluindo a forma como ela se expressa, de como ela sente, entende e reage à ruptura do vínculo.

Esse fracasso empático pode acontecer por diferentes fatores, seja porque os lutos não são legitimados, ou as perdas não são reconhecidas, ou ainda as formas de expressão do pesar são consideradas inadequadas ou se manifestam em contextos e tempos inesperados pelo próprio enlutado e pela sociedade.


Publicação original – 20 de setembro de 2021
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